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terça-feira, outubro 23, 2007

Minha ameixinha,

Dizem-me que uma mulher gosta sempre de receber uma carta, ainda mais nos dias que correm de contacto fácil e sms’s descartáveis. Por isso opto por esta missiva para te dizer a ti, Júlia, que está tudo acabado entre nós.
Irritas-me sem igual. Sempre assim foi, penso eu, nem compreendo bem porque começamos, muito menos porque duramos tanto tempo. Foram três semanas muito longas.
Já sei que vais pensar que isto é tudo relacionado com o teu recente aumento de peso. Deixa-me assegurar-te não, não é por aí. Estranho de facto a tua súbita aquisição de 20 quilos, mas suponho estar relacionado com a corcunda que te nasceu nas costas. Não é por isso que está tudo acabado entre nós, nem é pelos quistos. Não quero que te sintas mal com o teu corpo, por isso sou sincero, o problema é mesmo a tua personalidade. Juro.
Falas demasiado durante um filme e fazes barulho a comer pipocas e sabes bem como aprecio cinema.
Odeio a tua família, toda ela, especialmente o teu irmão. Sim, não gosto do Gonçalo, é um convencido. Estou muito melhor sem ti e sem esse canalizador emproado.
Bem sei que vai ser difícil, que vou continuar a ver-te, o facto de seres minha patroa a isso obriga e espero que isto não afecta a nossa relação profissional e especialmente a promoção de que tínhamos falado. Gostaria muito de passar do armazém para teu assessor e não quero que fique nenhum mal entendido entre nós e por isso te mando esta carta.
Sem mais,
Sempre teu,

Rodrigo (L)

Lugarejo de Cima, Rebordosa, Portugal
25-12-03



Se estão a ler esta carta, eu estou morto. Ou então ao abrir a janela esta carta voou e você que está a ler isto nem sabe que eu existi quanto mais que obituei. Acho que vou colocar um pisa papeis em cima da carta, não vá uma rabanada de vento tramar o meu último sopro de vida. Curiosa a ironia.
Bom, já me estou a esticar e não vou arranjar agora mais papel, até porque uma carta de suicídio de 2 folhas soa um bocado a desculpinhas.

Aos meus pais,
Gostei muito do tempo em que me sustentavam e também do bolo de laranja que mãe tão bem faz. Peço desculpa por ir descontinuar os pagamentos ao lar, mas afinal de contas vocês passavam a vida a queixar-se do lugar.

À minha Beatriz,
Não quero que fiques com sentimento de culpa, mas tenho que ser sincero, afinal isto é uma nota de suicídio, aquela coisa de me obrigares a abaixar a tampa da sanita após cada utilização não foi propriamente um dos Pró-Vida quando fiz a pesagem. Se é que me entendes.
Gostei sempre muito de ti mas o teu gosto pelo canto gregoriano, que ao principio me fez cair por ti, revelou-se bem desagradável ao fim de 27 anos de casamento, especialmente depois dos teus problemas gengivais e respectivo hálito a fossa.

Aos meus filhos, Paula e Ricardinho
Esqueçam aquela treta que eu vos impingi que estudar muito e trabalhar ainda mais vos daria uma boa vida. Chiça que está mesmo frio, acho que vou fechar a janela para já. Fui sempre dos melhores das turmas em que passei, cheguei a Técnico Oficial de Contas em idade recorde, casei com a mulher da minha vida e ao fim e ao cabo passei metade da minha vida a trabalhar em Contabilidade! Se querem realmente ser felizes, roubem, pilhem e violem. De preferência não um ao outro.

Adoro-vos a todos
Do filho, marido e pai,
Aníbal Gomes