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quarta-feira, dezembro 15, 2004

Há muito que eu cultivo um estúpido hábito de utilizar a 1ª pessoa do plural para a 2ª pessoa do singular. Segue-se um exemplo:
“Já marcávamos um golo senhor Sokota!”
Cá está! Sim, eu sei que sou parvo.
Até agora, julgava eu que este era um hábito saudável, tudo menos perigoso. Pois, não é assim...

Vivi hoje mais uma vez uma viagem de autocarro memorável.
- Nota do autor: Com o uso deste tipo de adjectivação não pretende o autor criar qualquer falsas esperanças quanto à comicidade deste post, já deverão saber que por mais hilária que seja uma situação, este autor, consegue torná-la no mais sensaborão pedaço de escrita da História. –
Confesso que pela 1ª vez desde que furou o pneu do autocarro naquela curva em Praga, consegui sentir uma certa simpatia pelo pavor dos outros.
Estava eu muito descansadamente sentado na parte de trás do autocarro (dos grandes e articulados, aqueles dos tempos em que os pterossauros eram os habitantes desta região…), quando noto numa conversa demasiado entusiasmada às minhas 3 horas.
Após uma observação aturada, eu que até nem sou de por rótulos em ninguém, decidi logo que as personagens em questão se tratavam de tóxicos da 2ª fase (agarrados mas ainda sem aquele cheirinho a urina). A conversa andava à volta do problema do desemprego e da situação da guerra*.
Seria já uma conversa digna de registo, no entanto, o melhor estava para chegar.
O camarada tóxico que se encontrava junto à janela vê chegado o autocarro ao seu local de se apear. Levanta-se e apercebe-se que já vai tarde. Sensatamente, grita:
“Hei! Olha aqui atrás, ó seu camelo de quatro bossas!”
O motorista, possivelmente por falta de perspicácia, não deu conta que era com ele. Seguiu.
Na próxima paragem, por fim, o injustiçado tóxico lá consegue sair. Francisco estava mesmo muito animado com o ambiente do autocarro, uma mescla de alívio pela partida e irritação pelo tempo ali passado era o sentimento geral.
No entanto, (e Francisco foi dos primeiros a perceber) faltava concluir a estória de um dos intérpretes da conversa, o tóxico nº2, o que estava junto à passagem, o que estava a metro e meio de Francisco.
Estranhamente, ainda ninguém se tinha sentado no banco que vagou junto ao dito passageiro. Eis então que surge uma conversa no mesmo tom, vinda do mesmo sítio. Francisco estranha, porém, confirma as suas previsões. Era com o banco que ele falava. Seguem-se mais uns momentos de alegre confraternização com o banco, quando umas palavras soltas chegam ao orifício auricular do vosso bom Francisco:
“Deitar…perna…pessoas…chão…tenho!”
Francisco só tem tempo de olhar para o lado e de ver o senhor a esticar a perna e a promover a queda de uma senhora de meia-idade. Esta não se estatela, pois agarra-se a um jovem estudante que por perto se encontrava. Francisco está prestes a entrar num estado de coma Arafatoso, no entanto, consegue ouvir a exclamação que se seguiu:
Toxico2- “Não a deitamos ao chão, caraças! Falhamos!”
Foi neste instante que percebi que é melhor parar de falar desta estúpida forma. Farei os possíveis para não mais dizer “Argel já morríamos, não?” e coisas do género…



* Fiquei sem perceber qual a guerra, porque a culpa era “dos pretos que nos foram meter no Iraque”…